quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Da ida - 9 de Setembro de 2013

16:34 - 71 fatídicos minutos de viagem esperam-me. Isto antes de se entrar no comboio dá a mesma sensação que a um actor em dia de estreia. A sensação de inevitabilidade assim que os holofotes se acendem e se entra em palco é a mesma de quando o comboio começa a andar - estamos ali, não há volta a dar. Um comboio é, no fundo, uma terra sem lei em que o improviso é rei (e quem rima sem querer é amado sem saber).

Adiante... já vos disse que adoro o Porto? A-D-O-R-O-!! Estou a falar a sério...com o Porto não se brinca!! Acho que é uma cidade carregada de alma e de postura, que não verga por qualquer vendaval ou tempestade. Que se mantém Invicta, segura e serena. Desde os edifícios às pessoas, todos eles parecem banhados a porte majestoso com uma pitada de altivez na dose certa. Até os mendigos e os pseudo gangstas têm melhor aspecto no Porto do que no resto deste nosso Portugal!! Eu, enquanto vilaverdense, não posso deixar de sentir um resquício de inferioridade sempre que pouso o pé na Estação de S. Bento (e isso é dizer muito porque, do alto dos meus 156 cm, raramente me sinto menor do que ou de quem quer que seja). Mas passa logo. Porque esta cidade, se fosse uma pessoa, seria linda por fora e por dentro. Seria como uma mãe: num lugar de topo sem subir ao pedestal, superior mas sempre posicionada ao nosso nível para nos segurar quando a vida e o mundo ficam difíceis de mais.

De entre as nuances mais bonitas deste lugar estão as lojas de bairro e de rua, de todo o tipo, ao virar de cada esquina e onde se encontram verdadeiros tesouros; a perfeita harmonia entre o velho e o novo, entre as cores dos grafitis, o cinzento das calçadas e o verde da natureza genialmente semeado por toda a cidade... Mas o melhor do Porto são mesmo as pessoas, a mescla de etnias, costumes e culturas que povoam as ruas numa existência nómada de rostos mais ou menos morenos, de portes mais ou menos atléticos, de olhos mais ou menos rasgados. Lá vemos de frente as feições e as rugas de quem escolheu o nosso país como (P)orto onde abrigar a sua vida, onde fazer a sua história. E que belas histórias se fazem nestas ruas do Porto...

Tudo isto porque hoje tive a companhia de uma família indiana do mais delicioso que já encontrei nestas minhas migrações pendulares -  carregavam na voz a língua, na pele o tom queimado e no comportamento caloroso um civismo e educação impecáveis, sem macha, raro de se ver hoje em dia. A viagem deles começou, como a minha, em Braga e terminou, adivinhem lá onde?

Catarina Vilas Boas

Sem comentários:

Enviar um comentário