quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Da amargura à inveja - 13 de Novembro

A amargura alheia já é desgostosa de se ver, mas quando é sonora então é insuportável.

O passageiro x (chamemos-lhe assim) passou a sua (e a minha) viagem inteira a destilar veneno pelo seu cúbilo de companheiras cinquentonas. Ele queixou-se do país, da língua inglesa, da língua portuguesa, do frio no comboio, do primo que bebia na universidade e na Corunha (e que por isso era careca), dos pais do primo que lhe faziam as "vontadinhas" todas, das telas da exposição que ele "pessoalmente" não gostava, dos colegas do antigo emprego que ele também não gostava, do possível futuro emprego, do emprego do outro e do que ele não fazia, dos lisboetas e da sua paixão assolapada por Lisboa.


O que eu tinha dito ao passageiro x se pudesse:

  • O país tá uma merda, mas você não está num palanque eleitoral. Está sentado, amigo. Num comboio.
  • A língua portuguesa é a mais bonita do mundo em toda a sua complexidade e esplendor. Só um animal diria o tipo de atrocidades que você está a dizer sobre essa que é a sua língua mãe.
  • Não está frio nenhum. Mas se acha que está, porque não veste o belo do casaco de cabedal que carrega no colo?
  • Se alcoól fosse causa de calvíce eu já não tinha sobrancelhas!
  • Os pais têm o direito de fazer as vontades que bem entenderem aos repectivos filhos. São eles que fazem deste filho da puta de mundo padrasto em que vivemos, um lar.
  • Se, pessoalmente, não gosta das telas, faça do problema pessoalmente seu e poupe a carruagem às suas noções de arte baratas.
  • Preocupe-se em arranjar um emprego para si agora e deixe o antigo (e o dos outros) em paz
  • Eu acho que a rua mais romântica de Portugal é em paralelo, ladeada por plátanos e está em Vila Verde - deixe os Lisboetas e a sua Lisboa! Se não gostarmos da nossa terra, quem gostará?

O passageiro x sofre de um caso de invejicite aguda típico em pessoas que, por não conseguirem fazer e ser melhor, ressentem a vida de todos aqueles que o são e que o fazem. E quem tem tempo para falar (mal) (da vida) dos outros, não tem tempo para fazer a sua rolar. A prova disso é que ele está desempregado, divorciado e careca. Não que eu ache que alguém precise de estar casado ou ter cabelo para ser feliz!! Mas o passageiro x claramente precisava...

Catarina Vila Boas

P.S.: Hoje já não dá, mas amanhã há mais...

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