sábado, 16 de novembro de 2013

Da paciência que tenho para bêbados e da que não tenho para gente estúpida - uma carta

Senhor Sérgio Mendes (o pica da CP, não o músico),

Dirijo-me a si como senhor, não porque ache que realmente o seja mas porque é o mais educado a fazer. Mas, pensando melhor, o senhor também não trata todos os passageiros da forma mais educada, portanto porque é que eu o hei-de tratar a si? Recomecemos, então...

Sérgio,
Com certeza que no decorrer da sua carreira de pica deve ter tido a sua quota de passageiros problemáticos. Não sei que tipo de formação vocês têm lá na "escola da CP" mas se aquilo que vos ensinam for o que o Sérgio fez da última vez que se viu a braços com uma situação do género então não só foi mal formado enquanto profissional mas também como pessoa, em casa, enquanto crescia.

Talvez lhe tenham feito falta alguns "babanos"... Eu também os levei! E não adiantaram de nada. Não a curto, médio ou longo prazo. E se o Sérgio os tivesse levado também chegaria a essa conclusão por si mesmo e já não os oferecia tão diligentemente a ninguém, muito menos a alguém que claramente não está na posse total das suas capacidades, mesmo que temporariamente. 

Desengane-se se pensa que eu acho que o Sérgio devia ser atacado física e/ou verbalmente e ficar quieto e calado. Não!! Eu só não acho que cantar "A minha alegre casinha" e colocar-lhe a mão no ombro seja um ataque! Tudo bem que o senhor Zé Pedro cantava mal (chamemos-lhe assim porque ele era claramente um fã dos Xutos) e estava bêbado como um cacho. Mas eu também canto (quando estou bêbeda) como um rouxinol com a gripe das aves e nunca ninguém me agrediu por causa disso. E você diz "Ah e tal, mas não o fez no comboio" - tem razão, não fiz. E se fizesse, será que o senhor me empurrava para o banco com o braço no meu pescoço e me oferecia porrada? Hmm, talvez não... Talvez porque eu tenho uma cara lavadinha, não cheiro mal, e a minha roupa não está remendada e coçada... Talvez porque tenho o aspecto de quem tem alguém que se preocupa comigo e que não iria, de todo, deixar uma atitude dessas passar em branco. Talvez se tivesse sido eu (ou qualquer outro passageiro mais apresentável) o senhor tivesse o cuidado de camuflar a sua estupidez latente de modo a preservar o seu emprego.

E olhe que eu acredito na violência! Acho que resolve situações de discórdia. Mas das internas. Daquelas que nos tiram o sono à noite. Das de foro psicológico e pessoal (deduzo que o Sérgio saiba do que eu estou a falar porque tem cara de quem padece desse tipo de problemas e em grande quantidade). Como escape, libertação de adrenalina, exercício. Mas para isso é que existem os sacos de boxe (ou de batatas), os colchões, as almofadas ou qualquer superfície suave. 

Mas pessoas não, Sérgio! Nem sequer pessoas estúpidas, tipo o Sérgio. Pessoas não! Pessoas não são sacos de pancada! E os passageiros são pessoas, não sei se sabe... Mesmo os bêbedos, os sujos, os mal cheirosos, os que falam sozinhos... São pessoas que inclusive pagaram pelo transporte e pagam o seu salário todos os meses. Deve ser difícil para si compreender...é um animal, portanto é possível que ache que são todos iguais a si. Mas olhe que não! São pessoas. E o Sérgio não é ninguém para os tratar como menos. 

Kiss kiss, bang bang,
Catarina Vilas Boas



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