segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Devaneios de comboio #2 - O Eusébio

Começo por dizer que sou portista. Mais vale expor essa espécie de conflito de interesses à priori que é para não dizerem que andam aqui ao engano.

Só num país como Portugal é que a morte de um jogador de futebol enche telejornais quase inteiros, às 13 e às 20 horas, nos quatro canais generalistas, incluindo o canal público.
Mas que é que me interessam os constantes directos do caixão a caminho do Estádio? As pessoas a chorar e a dizer que o Eusébio fez mais por este país do que qualquer pessoa? Pseudo celebridades a atestar o quão boa pessoa o senhor era? E homens a espumarem-se todos porque a bandeira não estava a meia haste?

Não é de meu interesse nem de interesse nacional. Portanto sou obrigada a concluir que todo este tempo de antena se deve ao facto de o Eusébio ter sido um jogador importante do clube encarnado. E não é ressabiamento, mas ao contrário do que os adeptos gostam de dizer no êxtase orgásmico das suas dúbias vitórias, o benfica não é uma nação.

A cereja no topo do bolo foi mesmo uma peça da rtp1 em que o jornalista diz que o país inteiro foi dizer adeus ao Eusébio quando a imagem mostra grande parte do estádio vazio.

E ainda querem o corpo no Panteão Nacional!! 
Quando ainda tinha paciência para assistir a estes telejornais de trazer por casa vi um benfa de bigodito dizer que o Eusébio merecia porque fez muito pela cultura do futebol. Cultura do futebol… cultura do futebol!?! A pior das misérias é mesmo a intelectual...

Anda gente a passar fome, sem dinheiro para medicamentos, para pagar a luz e a água (este último assegurado como bem de primeira necessidade na Constituição Portuguesa), a dormir na rua. Andam os funcionários públicos a pagar as “vacas ao dono” porque são, em teoria, o tumor do país (os políticos corruptos não se inserem nesse grupo cancerígeno, como é óbvio), andam as pessoas a apertar um cinto que lhes afixia, mais do que a carteira, a alma. E, mesmo assim, os portugueses querem que o Estado gaste dezenas de milhares de euros para colocar o Eusébio no Panteão Nacional (e não fui eu que avancei com este valor, mas sim uma entendida do assunto durante o telejornal da rtp1).

E é esta mentalidade portuguesinha, alimentada pelos media simplistas, que nos arrasta a todos para as profundezas do subdesenvolvimento social.

Catarina Vilas Boas

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