terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Devaneios de comboio #3 - A co-adopção e a adopção plena homoparental

Nunca, em toda a minha vida, tive qualquer tipo de preconceito em relação à homossexualidade. Não digo isto porque é bonito de se dizer, digo porque é verdade. Ok, ao crescer, tive uma fase em que tinha nojo de beijos, de sexo e de pessoas nuas na tv... Tapava os olhos para não ver. Mas isso acontecia quer fossem homens com mulheres, ou mulheres com mulheres, ou homens com homens... ou qualquer outra variável.

Hoje em dia, nada disso me impressiona. E não sou nada confusa em relação ao tema da homossexualidade ou a outros vulgarmente considerados tabu. Falo de tudo com todos tão abertamente como falo de política, música ou futebol. Não sei se vem da minha educação... Recordo-me da minha mãe, não sei agora em que contexto, me ter dito que se fosse lésbica era lésbica e acabou e o que interessava era não apanhar nenhuma doença. Também falou comigo sobre sexo, sobre masturbação, sobre pobreza, sobre racismo, sobre pedofilia, sobre violência doméstica... Em minha casa foi sempre assim. Falou-se de tudo quando tinha que se falar.

Numa aula qualquer debatemos o referendo. Se o achávamos necessário. Eu disse que não. Uma colega saltou logo revoltada com um "porque isso é que é a democracia" e um "estarmos a dizer que não queremos referendo é dizer que as pessoas não podem decidir sobre si".  E eu pergunto (e perguntei-lhe a ela também): porquê?

  • A democracia não exige igualdade? Sim. 
  • Houve referendos sobre a adopção por parte de casais heterossexuais? Não. 
  • Então porque hão-de agora proceder de forma diferente? Ahh e tal porque é o futuro das crianças que está em jogo, porque é muito esquisito para uma criança ter duas mães ou dois pais, porque os colegas vão gozar com eles, etc, etc (paleios de saco).

As crianças precisam de amor e querem-no sem olhar a sexos! Precisam de estabilidade emocional, do abrigo familiar, de carinho, de afectos e, acreditem, não os vão recusar à pala de preconceitos. Os colegas podem ser cruéis, é verdade, mas as crianças são fortes o suficiente para desviar balas e bullyings. Têm essa capacidade. Todas. Precisam somente de alguém que as estimule e lha fomente. E vão ter isso mesmo em casa, com pais (ou mães) dedicados. E quem adopta no nosso país, com todo o tempo de espera e burocracia que isso acarreta, está destinado a ser um pai dedicado.

Escândalos como o da Casa Pia provaram que as instituições não conseguem dar resposta a necessidades tão básicas como a protecção de agressões físicas, quanto mais a falhas que não deixam marcas no corpo. Há algumas, com certeza, que fazem o melhor que podem. Mas o melhor que podem não é suficiente. Miudos de 18 anos são postos no mundo selvagem sem bases, sem estrutura, sem que alguém lhes tenha indicado o caminho certo na hora certa e lhes tenha castigado as decisões erradas tomadas em quase todas as horas. Sem eira nem beira psicológica. Não era melhor terem duas mães ou dois pais em vez de nenhum? 

Eu sou a favor da co-adopção e da adopção plena por parte de casais do mesmo sexo. Acredito que devia existir e pronto. Sem referendos e sem merdas! Mas lá está, eu não sou uma pessoa confusa. E, infelizmente, Portugal está cheio de pessoas confusas.

Catarina Vilas Boas

P.S.: Aos mais confusos, aconselho a leitura dos seguintes testemunhos.


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