segunda-feira, 31 de março de 2014

Da poeta que há em mim

Entre o S. Pedro que não me dá descanso e o tecto esburacado da Estação de S. Bento, acho que ceguei um rapaz com a vareta do meu guarda-chuva. No meio de tanto São, eu olhei para trás e ele também, mas como não exibia cara de quem lhe doía alguma coisa decidi não pedir desculpa. As minhas desculpas têm um custo pessoal muito elevado e não estava (nem estou) disposta a desperdiçá-las quando delas não há necessidade. E, na dúvida, não há.

Ouvi-o a resmungar qualquer coisa enquanto me afastava. Acho que passei por vaca...

E a caminho da minha faculdade:


Eu não diria melhor. A propósito dos 40 anos do 25 de Abril, estou cada vez mais certa de que devia ter vivido nessa época. Não na época em que a coisa estava muito apertada - de certeza que, com a minha mania de me armar em selvagem, indomável e inconformada tinha sido assassinada - mas na época da revolução antes do 25. Na altura em que se reuniam em lugares escuros para conspirar contra as amarras da ditadura. Na altura em que se fazia jornalismo clandestino e a sério, se liam livros às escondidas e se ouviam músicas condenadas. Eu não sou mulher para este tempo...  E nem queria saber da coca-cola!! Sempre fui mais de vinho.

Catarina Vilas Boas

P.S.: É óbvio que o último parágrafo não passa de uma visão propositadamente leviana de uma época dura, que deixou marcas profundas em quem a viveu. Eu não faço parte dos portugueses que ambicionam uma nova ditadura, muito menos daqueles que votaram em Oliveira Salazar como o maior português de todos os tempos, nem sequer dos que lhe atribuem grandes qualidades pelo facto de ele ter sido o único governante a fazer com que as receitas excedessem as despesas (à custa de impostos elevados, da pobreza extrema da população e do subdesenvolvimento do país em geral - mas isso nunca entra no discurso). 


3 comentários:

  1. Está na consciência de cada um se devemos pedir desculpa ou não, acho que fizeste bem mesmo que a resposta tenha sido condenável.
    Achei engraçado pois acabei de dizer a uma amiga que a minha familia tem uma incapacidade, a de pedir desculpa. Rondam, murmuram, agradam-me mas pedir desculpa ...isso é que não!
    boa semana! :))

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  2. Acho que um singelo «desculpe» sempre cai bem

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